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10 fevereiro 2016

Como não se perder com senhas


E-mail, conta de banco, redes sociais... Em meio a tantas exigências, vale seguir dicas de especialistas, como as do Dr. Paulo Pagliusi nesta entrevista ao jornal "O Globo"
Fonte: "O Globo - Economia & Tecnologia - 09Fev2016.
Por causa de uma senha esquecida, o professor Luiz Guilherme Santos perdeu o acesso a uma conta de e-mail que mantinha há dez anos, e sofreu com as consequências de ficar temporariamente sem um dos seus principais canais de comunicação. Mensagens de trabalho ou recados de amigos se perderam em algum servidor inacessível, provocando broncas e reclamações. E o pequeno drama vivido por Santos é cada vez mais comum, dado o crescente número de códigos para se guardar. Conta de banco, cartão de crédito e e-mails pessoal e profissional. Redes sociais aos montes, Netflix, programa de milhagem e outros serviços. Tudo protegido por senha, tudo passível de ser esquecido ou hackeado.
— Eu tenho o costume de deixar a conta conectada no computador e no celular, mas tive que alterar a senha há cerca de dois meses, e esqueci a senha nova. Tentei recuperar, mas não tinha cadastrado o meu número de telefone. Acabei tendo que criar uma nova conta — diz o professor. — As pessoas achavam que eu não estava respondendo às mensagens de propósito, mas não era o caso. Agora está tudo resolvido. Pelo menos eu recebo menos spams.
Para evitar os problemas com a memória, muitas pessoas escolhem o caminho mais simples: usar senhas fáceis. Um levantamento realizado pela firma de segurança digital SplashData apontou que as cinco piores senhas do ano passado foram “123456”, “password” (senha em inglês), “12345678”, “qwerty” e “12345”. A análise foi feita com a compilação de aproximadamente duas milhões de contas vazadas na internet ao longo de 2015. Pela primeira vez, a sequência “1234567890” apareceu na lista das 25 piores senhas, o que mostra que a exigência de mais caracteres nem sempre aumenta a segurança.

AJUDA DE APLICATIVOS
Além das sequências de números e letras, muitas pessoas recorrem a datas e informações pessoais para criarem suas senhas, o que também não é recomendado por especialistas. Elas são fáceis de lembrar, mas também são fáceis de serem descobertas por criminosos.
As pessoas tendem a utilizar senhas que façam parte do seu universo, como time favorito, tendência política, nome do cachorro e datas especiais. O problema é que os criminosos cibernéticos também sabem disso — diz Paulo Pagliusi, diretor de Gestão de Riscos Cibernéticos da Deloitte. — Uma senha forte precisa ter maiúsculas, minúsculas, números e pontuação, com tamanho mínimo de oito caracteres. E a linguagem não pode ter nexo. Um hacker consegue varrer um dicionário em minutos usando força bruta.
Mas o problema das senhas seguras é lembrar. Anotá-las em um papel guardado embaixo do teclado não é recomendado, tampouco armazená-las em um arquivo de texto no computador. Pagliusi explica que é comum hackers utilizarem a chamada engenharia social para arquitetarem seus crimes, e essa técnica envolve espionagem. O hábito de usar a mesma senha para diferentes serviços também deve ser abandonado, pois se uma conta for comprometida, todas ficarão vulneráveis.

TÉCNICAS
Existem algumas técnicas que podem ajudar, como o uso de frases em vez de palavras. Edward Snowden, conhecido por ter vazado documentos sobre o esquema de vigilância global do governo americano, fez essa recomendação em entrevista no início do ano passado, brincando que uma boa chave seria “MargaretThatcheris110%SEXY”. Outra saída é o uso de aplicativos desenvolvidos especialmente para este fim, como Last Pass e F-Secure Key. Eles prometem armazenar de forma segura todas as senhas, que são acessadas por uma senha mestre.
— Basicamente, as pessoas têm que guardar apenas uma senha — explica Ariel Torres, gerente de serviços técnicos da F-Secure para a América Latina. — É como uma caixa virtual, todas as senhas ficam armazenadas lá dentro, criptografadas. Para entrar no aplicativo, basta lembrar uma senha.
Outra dica é criar códigos que mesclem letras e números para formar palavras e frases.
Torres, por exemplo, se tornaria “T0RR3S” — diz o especialista.
Essa simples mudança faz com que os termos sejam mais difíceis de serem descobertos em ataques de força bruta, quando o criminoso cibernético usa poder computacional para testar milhões de combinações. Alguns sites na internet oferecem testes de força das senhas, como o “How Secure Is My Password” (http://bit.ly/Kz6V00).

FIM DAS SENHAS?
A preocupação com as senhas não é apenas dos usuários, mas também das empresas. Muitos prestadores de serviços on-line oferecem a autenticação de dois fatores, uma camada adicional de segurança para a entrada em contas, além do login e senha. Redes sociais, como Twitter e Facebook, por exemplo, usam o sistema de código por SMS. Bancos e outros serviços financeiros apostam nos tokens, que geram códigos temporários.
A senha como conhecemos hoje tende a acabar. Existem outras formas de você provar que é você — prevê Pagliusi. — A tendência é que serviços críticos ofereçam a autenticação de dois fatores. Eles exploram não apenas algo que você sabe, no caso, a senha, mas o que você possui e o que você é, com códigos transmitidos por SMS e tokens e biometria.

O ‘ABC’ DAS SENHAS
FORÇA: Os especialistas recomendam, para ter uma senha “forte”, usar no mínimo 8 caracteres, se possível mais. O ideal é mesclar letras maiúsculas, minúsculas, números e caracteres especiais. Não se deve usar sequências óbvias ou pessoais como, por exemplo, datas de aniversário
PARA MEMORIZAR: Há aplicativos que guardam todas as senhas e são acessados por apenas uma chave. Outra dica é criar frases, em vez de palavras. Ou mesclar letras e números para formar palavras. Um exemplo: se seu nome é Sérgio, use uma mescla de letras maiúsculas e minúsculas e números que, escritos, formarão a palavra Sérgio, como na sequência S3rGl0
EVITAR: Os especialistas orientam a não anotar senhas em papéis ou arquivos no computador. Deve-se evitar usar informações pessoais e usar a mesma chave para diferentes serviços.